xica

Xica Manicongo, nome que em sua morfologia transformada se consagra como aura da primeira travesti não indígena do Brasil. Manicongo é uma forma modificada de Mwene Kongo: senhor do Congo; enquanto Xica exalta seu devir, seu gênero dissidente e de resistência frente a violenta nomeação masculina que lhe foi atribuída pelo sistema de escravização.

Sua corporalização revela as intrincadas teias de opressão e caminhos de resistência erigidas na experiência afrodiaspórica. Xica foi como tantas trazida de forma forçosa durante o século XVI para a cidade de Salvador, trabalhou como sapateira se recusando a vestir roupas tidas como masculinas na época, não demorando muito para que um colono incomodado com sua performatividade a denunciasse para a Santa Inquisição. Manicongo escolhe permanecer livre e a fim de evitar a própria morte se fantasia de homem, enganando seus usurpadores.

 A figura de Xica não se limita a uma representação estereotipada, seu imperativo desvela estruturas que moldam a sociedade, assim rompendo com categorias de gênero, sexualidade e expressão que solapam as verdadeiras vozes que habitam cada indivíduo em seu interior. Os nomes de seus opressores foram documentados, e ainda assim esquecidos pela história, enquanto Xica Manicongo viva em nossa memória se consagra como parte fundamental da tessitura da identidade afro-brasileira.

 

Referências:

A CASA 1. “Quem foi Xica Manicongo”, 2022. Disponível em: https://www.casaum.org/quem-foi-xica-manicongo-considerada-primeira-travesti-brasileira/. Acesso em 18/11/2023. 

FUNDAÇÃO Bienal de São Paulo. “Xica Manicongo”, 35ª Bienal de São Paulo, 2023. Disponível em: https://35.bienal.org.br/participante/xica-manicongo/. Acesso em 18/11/2023.

GONZALES, Lélia. “Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira”. Revista Ciências Sociais Hoje, Anpocs, 1984, p. 223-244. 

Responsável: Monik Dáfani Dantas (Ciências Sociais - FFLCH/USP)