Samba, fé e luta: o legado da filha de Ogum e Iansã
Leci Brandão, uma das mais importantes sambistas do Brasil, tem sido uma voz influente não só na música, mas também na luta pelos direitos das mulheres negras e na preservação da cultura afro-brasileira. Sua carreira é marcada pela paixão e pelo compromisso com a justiça social.
Nascida em 12 de setembro de 1944, no Rio de Janeiro, Leci cresceu em um ambiente onde o samba era a alma da comunidade. Desde cedo, sua vida foi embalada pelos ritmos e histórias do samba, moldando sua identidade artística.
O início de sua carreira é na década de 1970, destacando-se como uma das poucas mulheres no cenário do samba, dominado por homens. Sua música, que mescla elementos tradicionais do samba com letras que abordam temas sociais, rapidamente ganhou destaque. Canções como “Zé do Caroço” e “Isso é Fundo de Quintal” são exemplos de sua habilidade em combinar ritmo contagiante com mensagens poderosas.
Conhecida por seu ativismo, ela usa sua voz para lutar contra o racismo, a discriminação de gênero e a desigualdade social. Sua presença no samba é um símbolo de resistência e empoderamento para muitas mulheres negras no Brasil.
A religiosidade desempenha um papel fundamental em sua vida e obra, entrelaçando-se com sua música e ativismo. Como uma artista profundamente enraizada em sua fé, Leci expressa em suas canções e em sua vida a riqueza das tradições espirituais afro-brasileiras.
Como deputada, destaca-se na defesa dos direitos das mulheres, especialmente as negras, e foca em questões de comunidades indígenas, quilombolas e da juventude pobre e negra. Ela é ativa na luta contra a violência de gênero e na promoção da igualdade, com ênfase na cultura e direitos da comunidade afro-Brasileira.
Por fim, destacamos sua relação com a Estação Primeira de Mangueira, que vai além de uma simples filiação a uma escola de samba; é uma fusão profunda de identidades, valores culturais e história. Leci, como uma das mais respeitadas sambistas do Brasil, encontrou um lar espiritual na Mangueira e uma fonte inesgotável de inspiração.
Na exposição "Heróinas Negras Brasileiras", celebramos Leci Brandão não apenas como uma sambista excepcional. Ela é guardiã de tradições sagradas e uma voz para a tolerância religiosa, com um ativismo político incansável. Sua jornada reflete o poder da arte como instrumento de mudança social e sua vida é um exemplo da luta contínua pela igualdade e justiça.
Responsável: Maria Imaculada da Conceição (Biblioteca Florestan Fernandes - FFLCH/USP)